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LINCE-IBÉRICO - O SOBREVIVENTE


IBERIAN LYNX - THE SURVIVOR









Tal como tinha prometido, volto hoje a um trabalho mais profundo, sobre uma das minhas espécies de eleição. Tal como já havia referido, o Lince Ibérico é sem dúvida um dos animais que mais me tem fascinado ao longo dos últimos 35 anos. Tal como muitos devem saber, esta é uma das espécies de mamíferos mais vulneráveis do planeta, circunscrito que está uma pequena franja fragmentada de pequenos territórios nas proximidades do centro da raia que divide Portugal e Espanha. O único felino, raro e endémico da Península Ibérica.
Quando olhamos para o que resta do habitat deste animal custa a crer que venha a sobreviver aos próximos vinte anos, porém o trabalho feito pelos centros e organizações que trabalham na protecção e reprodução (em regime de ex-situ) para conservar e combater o risco de extinção desta expécie tem sido exemplar. Os programas de reprodução em centros espanhóis como, os de Dõnana em El acebuche, Andújar-Cardeña, na zona oriental de Serra Morena ou Guadalmellato em Córdoba permitem ter alguma esperança nestes projectos de defesa da vida selvagem... até porque situações destas já resultam da deslocação de exemplares nascidos nestes centros e que desta forma têm sido introduzidos em novas localizações permitindo que se amplie as zonas de habitat e a diversidade genética dos indivíduos. Em Portugal, o programa de centro de reprodução, como se sabe, encontra-se no bem sucedido CNRLI em Silves.

  Infelizmente, ainda aguardo a oportunidade de sonho, de poder visitar um deste centros. Contudo, enquanto espero concretizar esta indescritível experiência, desejo profundamente que os fins destas magníficas instituições concretizem diariamente os seus objectivos, que tento acompanhar quase diáriamente em termos informativos.

Taxonomia do Lince Ibérico:
  • Reino: Animalia
  • Filo: Chordata
  • Subfilo: Vertebrata
  • Classe: Mammalia
  • Subclasse: Eutheria
  • Ordem: Carnivora
  • Subordem: Feliformia
  • Familia: Felidae
  • Género: Lynx
  • Espécie: L. pardinus
  • Nome comum: Lince-ibérico
  • Nome científico: Lynx pardinus (1827), original: Felis pardina

Classificação IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais):

CR (Criticamente em Perigo)

Considerado o mamífero carnívoro mais ameaçado da Europa e o felino mais ameaçado do mundo (devido ao número de indivíduos e populações reprodutoras existentes em liberdade numa única e circunscrita ou limitada área de distribuição).

Morfologia do Lince Ibérico:

Como morfologia, o Lince-ibérico possui uma pelagem castanho-avermelhada, apesar de pequenas variações do seu padrão as manchas pretas variam na disposição de pequenos pontos, de manchas mais extensas a riscas transversais. Como o "Mabeco", de quem já falei, também o Lince Ibérico não deverá ter outro indivíduo com o mesmo padrão de manchas, o que ajuda a identificá-los na óptica da impressão digital. As três características mais evidentes no Género Lynx, são a cauda curta com um tufo de pêlos pretos na ponta, os chamados pinceis nas extremidades das orelhas, e barbichas laterias pontiagudas. O peso de um macho adulto em média é cerca de 12 Kg, as fêmeas são um pouco mais pequenas com cerca de 9 Kg em média. Com um comprimento que varia entre os 80 e os 110 cm até á cauda, que não possui mais do que 13 cm.
Lince-Euroasiático, Boreal
 ou Comum
Os dados dizem que o Lince Ibérico é um felino cuja espécie tem origem no afastamento de espécies como o puma americano, os leopardos africanos, e das outras espécies do género Felis há provavelmente 7 milhões de anos. 
Lince do Canadá


Lince Pardo ou Vermelho
(ou como os americanos chamam: Bobcat)


Existem actualmente 4 espécies de linces: para além do "nosso" Lince-Ibérico, há o Lince Euroasiático/Boreal/Comum (o de maior porte), o Lince do Canadá (com 4 subespécies), e o Lince Pardo ou Vermelho (nesta espécie contam-se, ainda que não totalmente reconhecidas, 13 subespécies ao longo do continente americano e é o mais pequeno dos linces).

A reprodução do Lince Ibérico:

 Esta espécie tem como período de acasalamento: o Inverno e a Primavera, que normalmente decorre até Julho. Porém é no primeiro trimestre do ano que ocorrem a maioria dos nascimentos, que podem estender-se até às primeiras semanas de Abril. O tempo de gestação dura cerca de 2 meses e as ninhadas variam entre duas a três crias. Uma das causas do seu declínio, é a elevada mortalidade juvenil, pois a possibilidade de sobrevivência é rara e em média apenas uma ou duas crias consegue chegar a jovem adulto. A esperança volta a renascer devido à idade com que se tornam independentes, que acontece entre os 7 e os 10 meses de idade. As fêmeas são férteis antes do primeiro ano idade, os machos só perto dos dois anos. Se as condições fossem mais favoráveis e os meios para a sua sobrevivência tivessem outro tipo de intervenção humana, as possibilidades naturais aumentavam exponencialmente, dado que a longevidade do Lince pode atingir os 16 anos de idade.

A alimentação do Lince Ibérico:

O lince tem como presa principal o coelho-bravo “Oryctolagus cuniculus”, que representa entre 80 a 100% da sua alimentação. Um coelho por dia pode colmatar as necessidades básicas mais limitadas como o valor minimio energético que precisa, todavia se a situação for de uma fêmea com crias isso pode implicar a caça de 2 ou 3 coelhos no mesmo período. Tendo em conta que a população de coelhos-bravos também está fortemente afectada isto pode influenciar e comprometer o número de reproduções por ano do Lince em estado selvagem. Mesmo sabendo que os roedores, lebres, aves ou outros pequenos mamíferos podem igualmente fazer parte da sua subsistência. O projecto de reintrodução de gamos ou corsos nos habitats deste felino deverão ajudar nos períodos de menos abundancia a novas alternativas alimentares, mesmo que mais difíceis do ponto de vista da caça típica desenvolvida por esta espécie.



Habitat e etologia do Lince Ibérico:





  É um felino de comportamento essencialmente nocturno, territorialmente solitário. Como excelente trepador que é e de grande agilidade, prefere territórios de geografia mediterrânea, com zonas montanhosas, intensas em bosques e matagais densos. Igualmente bom nadador quando é necessário. Felino de médio porte e com membros elevados, adaptados ao tipo de meio ambiente próprio a estas espécies. Esquivo e astuto, faz da sua pelagem o meio ideal para se dissimular da vista de outros predadores ou caçadores como o homem. Talvez, por isso, e por instinto, procure as zonas mais densas de vegetação e os locais menos acessíveis como habitat preferêncial das suas deambulações de caça. Sabe-se que em média um macho com estas condições normais e naturais pode exigir um território de mais de 10 km2, numa área que pode ser coberta em mais de 8,5 km2 por eventualmente duas fêmeas no mesmo espaço. Dado que o macho pode percorrer diariamente em média 7 km2 da sua área vital de caça. Claro que é determinante para definir esta extensão territorial; o tempo e as suas estações, as condições adequadas do terreno em termos de vegetação, alimentação e água disponíveis durante o ano, como é também fundamental que a população de coelhos-bravos se encontre entre o 4 e o 5 exemplares por hectare e a ligação entre os diferentes núcleos de territórios vizinhos possa exercer uma interacção entre eles permitindo a dinâmica genética da espécie.
 

Censos do Lince Ibérico

Nos anos 90 calculava-se que a população desta espécie deveria oscilar entre 1000 a 1200 exemplares distribuí­dos ao longo de uma dezena de grupos populacionais localizados entre Portugal e Espanha. Hoje em dia, sabe-se que desapareceu de grande parte da mancha geográfica que habitava em Espanha, sendo quase certo que terá desaparecido totalmente das zonas identificadas no território português. Estando confinado a eventual 3 populações situadas em Espanha.
Neste momento estão confirmadas a existência de 3 populações reprodutoras ( localizadas em Doñana (Andujár-Cardeña), na zona oriental da Serra Morena, e agora em Guadalmellato em Córdoba, para além de um ou outro pequeno território onde foi recente introduzido com alguns indivíduos provenientes dos centros de reprodução ao obrigo do projecto “LIFE Lince”.

Em 2011, o último censo revelava uma população em Andaluzia de 298 espécimes, que significava um crescimento da população em 10%, de 275 Linces no ano anterior. Mas com um valor esperançoso de 217% em relação a 2002, que era de 94 indivíduos registados… ou seja, um aumento populacional do triplo em nove anos decorridos. Evidenciando uma clara recuperação deste maravilhoso animal, que tanto nos devia dizer a nós portugueses… que, como já muitas vezes frisei, bem poderia ser o nosso ex-libris, tal como acontece com tantas nações que assim prestigiam a sua fauna como símbolo nacional. 

Estima-se que a área actual de distribuição desta espécie seja aproximadamente de 1040 km2, incluindo já o calculo estimado  da nova reserva natural no vale do rio Guadalmellato (uma das antigas zonas históricas da distribuição peninsular do Lince, actualmente com cerca de 23 adultos e 6 crias em liberdade). Este valor é bem maior daquele que estava descrito à cerca de três anos, que rondaria os 709 km2. De acordo com as informações que obtive, através de dados do projecto "Life liberlince" - Programa Para a Conservação e Reintrodução do Lince Ibérico na Andaluzia, foram identificados como último censo 2012 cerca de 309 linces, dos quais 78 são crias ainda juvenis, um decréscimo relativo ao ano de 2011, onde foram registados ou identificados 312 exemplares.


Tabela de cópulas e emparelhamentos de casais nos diversos centros de reprodução.


Riscos à extinção do Lince Ibérico:

São vários os factores que colocam em grave risco a sobrevivência deste felino. Uma ameaça que já se estende ao longo de 40 anos, o que é revelador do trabalho efectivo investido pelas autoridades, governos, estados e organizações com a mais alta responsabilidade nos meios para que esta situação já tivesse outros resultados. Claro que, há sempre alguém ou partes responsáveis na sociedade que ainda nos vão dando uma razão para acreditar que o homem bem lá no fundo tem um verdadeiro caracter humano.
Os constantes avanços urbanos sobre as regiões silvestres e a geografia natural são a principal causa da destruição do habitat do Lince e das populações selvagens que fazem parte do equilíbrio da biodiversidade e dos ecossistemas necessários para que a fauna e flora se mantenha em perfeita harmonia, e para que todos os seres possam viver de acordo com a sua natureza. Contudo a fragmentação destas paisagens ocorrida ao longo das últimas décadas, não só tem limitado a conectividade entre as poucas populações existentes desta espécie como também tem reduzido assustadoramente o número de exemplares da sua principal presa alimentar: o coelho-bravo. Este roedor que é determinante para a sobrevivência da maioria dos grandes predadores da Península Ibérica, tem sido afectado, para além dos factores referidos, por duas doenças que lhe são fatais e altamente propagáveis, como a: mixomatose e a DHV (Doença Hemorrágica Viral).
A mortalidade do Lince e o seu declínio também se tem devido à directa responsabilidade do homem; pelo abate intencional, pelas armadilhas e laços mortíferos. Como pela construção de estradas movimentadas em locais que deviam ser preservados, causando uma percentagem alarmante de atropelamentos de indivíduos errantes que procuram encontrar um pouco mais de território ao seu espaço natural demasiado condicionado para suas necessidades naturais. Limitações estas, que são outro dos factores que têm vindo ameaçar as suas populações, pois com uma exígua possibilidade de variação genética de populações isoladas, leva a que mais facilmente se propaguem patologias em doenças como a toxoplasmose e a leucose felina (leucemia felina ou FeLV “Feline leukemia vírus”)… que pelo facto de altamente infecto-contagiosas numa população selvagem pode causar danos irreversíveis.
Outra das razões que pesam nesta espécie, é resultante de uma referência que já mencionei anteriormente; a mortalidade juvenil comum, que influenciada pelas ameaças em cima registadas aumentam dramaticamente o sucesso de maior sobrevivência das suas descendências.
De acordo com os dados consultados, o perigo é tal que só nos últimos 15 a 30 anos o Lince Ibérico viu-se reduzido na sua população total, em cerca de 80%... o que é assustador, para aquele que bem podia ser o Símbolo Maior da relação entre dois países, como Portugal e Espanha.
Alguma tem sido feita, mas na realidade é preciso realmente fazer muito mais e rapidamente.


A fêmea Biznaga com as suas 4 crias nascidas em Março de 2013 no CNRLI, em Silves









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